Mulheres que Correm Com Os Lobos

Reflexão de Leitura

O projeto de reflexão de leitura, chega ao Capitulo 4 do  livro mulheres que correm com os lobos,  este  é um evento, semanal,  gratuito, 100% online e com vagas limitadas.

Neste programa, conversamos sobre cada capítulo do livro, e você pode participar conosco, contando sua história, falando sobre seus sentimentos diante de cada frase ou história.

Para participar e aconselhável, fazer a leitura do livro, mas não obrigatório.

Cada capitulo tem um tema, desta forma, você pode participar de todos os encontros ou só de alguns.

Então confira as frases que separamos para refletir a partir da historia  Manawee.

As reflexões, mas relevantes dos eventos anteriores, ficaram disponíveis em nosso canal no YouTube.

Inscreva-se no canal.

Capitulo- 9 A Volta Ao Lar

O Retorno Ao Próprio Self

Pele de foca, pele da alma

Houve um tempo, que passou para sempre e que irá logo estar de volta, em
que um dia corre atrás do outro de céus brancos, neve branca… e todos os minúsculos
pontinhos escuros ao longe são pessoas, cães, ou ursos.
Nesse lugar, nada viceja gratuitamente. Os ventos são fortes, e as pessoas se
acostumaram a trazer consigo seus parkas, mamleks e botas, já de propósito. Nesse
lugar, as palavras se congelam ao ar liv re, e frases inteiras precisam ser arrancadas
dos lábios de quem fala e descongeladas junto ao fogo para que as pessoas possam
ver o que foi dito. Nesse lugar, as pessoas vivem na basta cabeleira da velha Annuluk,
a avó, a velha feiticeira que é a própria Terra. E foi nessa terra que vivia um homem…
um homem tão solitário que, com o passar dos anos, as lágrimas haviam aberto
fundos abismos no seu rosto.
Ele tentava sorrir e ser feliz. Ele caçava. Colocava armadilhas e dormia bem.
No entanto, sentia falta de companhia. Às vezes, lá nos bancos de areia, no seu
caiaque, quando uma foca se aproximava, ele se lembrava de antigas histórias sobre
como as focas haviam um dia sido seres humanos e como o único remanescente
daqueles tempos estava nos seus olhos, que eram capazes de retratar expressões,
aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas. Às vezes ele sentia nessas ocasiões
uma solidão tão profunda que as lágrimas escorriam pelas fendas já tão gastas no seu
rosto.
Uma noite ele caçou até depois de escurecer, mas sem conseguir nada. Quando
a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reluzir, ele chegou a uma
enorme rocha malhada no mar e seu olhar aguçado pareceu distinguir movimentos
extremamente graciosos sobre a velha rocha.
Ele remou lentamente e com os remos bem fundos para se aproximar, e lá no
alto da rocha imponente dançava um pequeno grupo de mulheres, nuas como no
primeiro dia em que se deitaram sobre o ventre da mãe. Ora, ele era um homem
solitário, sem nenhum amigo humano a não ser na lembrança — e ele ficou ali
olhando. As mulheres pareciam seres feitos de leite da lua, e sua pele cintilava com
gotículas prateadas como as do salmão na primavera. Seus pés e mãos eram longos e
graciosos.
Elas eram tão lindas que o homem ficou sentado, atordoado, no barco, e a água
nele batia, levando-o cada vez mais para junto da rocha. Ele ouvia o riso magnífico
das mulheres… pelo menos elas pareciam rir, ou seria a água que ria às margens da

rocha? O homem estava confuso, por se sentir tão deslumbrado. Entretanto,
dispersou-se a solidão que lhe pesava no peito como couro molhado e, quase sem
pensar, como se fosse seu destino, ele saltou para a rocha e roubou uma das peles de
foca ali jogadas. Ele se escondeu por trás de uma saliência rochosa e ocultou a pele de
foca dentro do seu qutnquq, parka.
Logo, uma das mulheres gritou numa voz que era a mais linda que ele já
ouvira… como as baleias chamando na madrugada… ou não, talvez fosse mais
parecida com os lobinhos recém-nascidos caindo aos tombos na primavera… ou
então, não, era algo melhor do que isso, mas não fazia diferença porque… o que as
mulheres estavam fazendo agora?
Ora, elas estavam vestindo suas peles de foca, e uma a uma as mulheres-focas
deslizavam para o mar, gritando e ganindo de felicidade. Com exceção de uma. A
mais alta delas procurava por toda a parte a sua pele de foca, mas não a encontrava
em lugar nenhum. O homem sentiu-se estimulado — pelo quê, ele não sabia. Ele saiu
de trás da rocha, dirigindo um apelo a ela.
— Mulher… case-se… comigo. Sou um… homem… sozinho.
— Ah — respondeu ela. — Eu não posso me casar, porque sou de outra
natureza, pertenço aos que vivem temeqvanek, lá embaixo.
— Case-se… comigo — insistiu o homem. — Em sete verões, prometo lhe
devolver sua pele de foca, e você poderá ficar ou ir embora, como preferir.
A jovem mulher-foca ficou olhando muito tempo o rosto do homem com olhos
que, se não fossem suas origens verdadeiras, pareciam humanos.
— Irei com você — disse ela, relutante. — Dentro de sete verões, tomaremos a
decisão.
E assim, com o tempo, tiveram um filho a quem deram o nome de Ooruk. A
criança era ágil e gorda. No inverno, a mãe contava a Ooruk histórias de seres que
viviam no fundo do mar enquanto o pai esculpia um urso em pedra branca com uma
longa faca. Quando a mãe levava o pequeno Ooruk para a cama, ela lhe mostrava pelo
buraco da ventilação as nuvens e todas as suas formas. Só que, em vez de falar das
formas do corvo, do urso e do lobo, ela contava histórias da vaca-marinha, da baleia,
da foca e do salmão… pois eram essas as criaturas que ela conhecia.
No entanto, à medida que o tempo foi passando, sua pele começou a ressecar.
A princípio, ela escamou e depois passou a rachar. A pele das suas pálpebras começou
a descascar. O cabelo da sua cabeça, a cair no chão. Ela se tornou naluaq, do branco
mais pálido. Suas formas arredondadas começaram a definhar. Ela procurava
esconder seu caminhar claudicante. A cada dia seus olhos, sem que ela quisesse, iam
ficando mais opacos. Ela passou a estender a mão para tatear porque sua vista estava
escurecida.
E as coisas iam dessa forma até uma noite em que o menino Ooruk despertou
ouvindo gritos e se sentou ereto nas cobertas de pele. Ele ouviu um rugido de urso,
que era seu pai repreendendo a mãe. Ouviu, também, um grito como o da prata que
ressoa com uma pedra, que era sua mãe. — Você escondeu minha pele de foca há sete longos anos, e agora está
chegando o oitavo inverno. Quero que me seja devolvido aquilo de que sou feita 
.

— gritou a mulher-foca.
— E você, mulher — vociferou o marido. — Você me deixará se eu lhe der a
pele.
— Não sei o que eu faria. Só sei que preciso daquilo a que pertenço.
— E você me deixaria sem mulher, e a seu filho, sem mãe. Você é má.
Com essas palavras, o marido afastou com violência a pele da porta e
desapareceu noite adentroO menino adorava a mãe. Ele tinha medo de perdê-la e, por isso, chorou até
dormir… só para ser acordado pelo vento. Um vento estranho… que parecia chamálo.
— Oooruk, Ooorukkkk.
Ele pulou da cama, tão apressado que vestiu o parka de cabeça para baixo e só
puxou os mukluks até a metade. Ao ouvir seu nome chamado insistentemente, ele
saiu correndo na noite estrelada.
— Ooooooorukkk.
O menino correu até o penhasco de onde se via a água e lá, bem longe no mar
encapelado, estava uma foca prateada, imensa e peluda… Sua cabeça era enorme.
Seus bigodes lhe caíam até o peito. Seus olhos eram de um amarelo forte.
— Ooooooorukkk.
O menino foi descendo o penhasco de qualquer jeito e bem junto à base
tropeçou numa pedra, não, numa trouxa, que rolou de uma fenda na rocha. O cabelo
do menino fustigava seu rosto como milhares de açoites de gelo.
— Ooooooorukkk.
O menino abriu a trouxa e a sacudiu: era a pele de foca da sua mãe. Ah, ele
sentia seu perfume na pele inteira. E, enquanto mergulhava o rosto na pele de foca e
respirava seu cheiro, a alma da mãe penetrava nele como um súbito vento de , verão
— Ah — exclamou ele com alegria e dor, e levou novamente a pele ao rosto.Mais uma vez, a alma da mãe passou pela dele. — Ah!!! — gritou ele de novo, porque
estava sendo impregnado pelo amor infindo da mãe.
E a velha foca prateada ao longe mergulhou lentamente para debaixo d’água.
O menino escalou o penhasco, voltou correndo para casa com a pele de foca
voando atrás dele e se jogou para dentro de casa. Sua mãe contemplou o menino e a
pele e fechou os olhos, cheia de gratidão pelo fato de os dois estarem em segurança.
Ela começou a vestir sua pele de foca.
— Ah, mãe, não! — gritou o menino. Ela apanhou o menino, ajeitou-o debaixo
do braço e saiu correndo aos trambolhões na direção do mar revolto.
— Ai, mamãe, não me abandone! — implorava Ooruk. E logo dava para se ver
que ela queria ficar com o filho, queria mesmo, mas alguma coisa a chamava, algo
que era mais velho do que ele, mais velho do que ela, mais antigo que o próprio
tempo.
— Ah, mamãe, não, não, não — choramingou a criança. Ela se voltou para ele
com uma expressão de profundo amor nos olhos. Segurou o rosto do menino nas
mãos e soprou para dentro dos pulmões do menino seu doce alento, uma vez, duas,
três vezes. Depois, com o menino debaixo do braço como uma carga preciosa, ela
mergulhou bem fundo no mar e cada vez mais fundo. A mulher-foca e seu filho não
tinham dificuldade para respirar debaixo d’água.Eles nadaram muito para o fundo até que entraram no abrigo subaquático das
focas, onde todos os tipos de criaturas estavam jantando e cantando, dançando e
conversando, e a enorme foca prateada que havia chamado Ooruk de dentro do mar
da noite abraçou o menino e o chamou de neto.
— Como você está se saindo lá em cima, minha filha? — perguntou a grande
foca prateada.
A mulher-foca afastou o olhar e respondeu.
— Magoei um ser humano… um homem que deu tudo para que eu ficasse com
ele. Mas não posso voltar para ele, porque, se o fizer, estarei me transformando em
prisioneira.
— E o menino? — perguntou a velha foca. — Meu neto? — Ele estava tão
orgulhoso que sua voz tremia.

— Ele tem de voltar, meu pai. Ele não pode ficar aqui. Ainda não chegou o seu
tempo de ficar conosco. — Ela chorou. E juntos eles choraram.

E assim passaram-se alguns dias e noites, exatamente sete, período durante o
qual voltou o brilho aos cabelos e aos olhos da mulher-foca. Ela adquiriu uma bela
cor escura, sua visão se recuperou, seu corpo voltou às formas arredondadas, e ela
nadava com agilidade. Chegou, porém, a hora de devolver o menino à terra. Nessa
noite, o avô-foca e a bela mãe do menino nadaram com a criança entre eles. Vieram
subindo, subindo de volta ao mundo da superfície. Ali eles depositaram Ooruk
delicadamente no litoral pedregoso ao luar.
— Estou sempre com você — afiançou-lhe sua mãe. — Basta que você toque
algum objeto que eu toquei, minhas varinhas de fogo, minha ulu, faca, minhas
esculturas de pedra de focas e lontras, e eu soprarei nos seus pulmões um fôlego
especial para que você cante suas canções.
A velha foca prateada e sua filha beijaram o menino muitas vezes. Afinal, elas
se afastaram, saíram nadando mar adentro e, com um último olhar para o menino,
desapareceram debaixo d’água. E Ooruk, como ainda não era a sua hora, ficou.
Com o passar do tempo, ele cresceu e se tornou um famoso tocador de tambor,
cantor e inventor de histórias. Dizia-se que tudo isso decorria do fato de ele, quando
menino, ter sobrevivido a ser carregado para o mar pelos enormes espíritos das focas.
Agora, nas névoas cinzentas das manhãs, ele às vezes ainda pode ser visto, com seu
caiaque atracado, ajoelhado numa certa rocha no mar, parecendo falar com uma
certa foca fêmea que freqüentemente se aproxima da orla. Embora muitos tenham
tentado caçá-la, sempre fracassaram. Ela é conhecida como Tanqigcaq, a brilhante, a
sagrada, e dizem que, apesar de ser foca, seus olhos são capazes de retratar
expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas.

Pegando uma carona no livro, separamos algumas frase do 9º capitulo.

para que você, possa participar desta viagem de reflexão.

Estamos nós preparando para refletir com você, cada capitulo do livro.

Para saber mais, faça parte dos nossos seguidores. 

Encontre o resumo das capítulos anteriores,

“introdução” 

 ” La-Loba”

O Barba-Azul” 

“Vasalisa”   

“Manawee”

“Mulher Esqueleto”

Patinho Feio”

“O Corpo Jubiloso”

“Sapatinho Vermelho

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Mulheres que Correm Com Os Lobos

Reflexão de Leitura

O projeto de reflexão de leitura, chega ao Capitulo 4 do  livro mulheres que correm com os lobos,  este  é um evento, semanal,  gratuito, 100% online e com vagas limitadas.

Neste programa, conversamos sobre cada capítulo do livro, e você pode participar conosco, contando sua história, falando sobre seus sentimentos diante de cada frase ou história.

Para participar e aconselhável, fazer a leitura do livro, mas não obrigatório.

Cada capitulo tem um tema, desta forma, você pode participar de todos os encontros ou só de alguns.

Então confira as frases que separamos para refletir a partir da historia  Manawee.

As reflexões, mas relevantes dos eventos anteriores, ficaram disponíveis em nosso canal no YouTube.

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Capitulo- 9 A Volta Ao Lar

O Retorno Ao Próprio Self

Pele de foca, pele da alma

Houve um tempo, que passou para sempre e que irá logo estar de volta, em
que um dia corre atrás do outro de céus brancos, neve branca… e todos os minúsculos
pontinhos escuros ao longe são pessoas, cães, ou ursos.
Nesse lugar, nada viceja gratuitamente. Os ventos são fortes, e as pessoas se
acostumaram a trazer consigo seus parkas, mamleks e botas, já de propósito. Nesse
lugar, as palavras se congelam ao ar liv re, e frases inteiras precisam ser arrancadas
dos lábios de quem fala e descongeladas junto ao fogo para que as pessoas possam
ver o que foi dito. Nesse lugar, as pessoas vivem na basta cabeleira da velha Annuluk,
a avó, a velha feiticeira que é a própria Terra. E foi nessa terra que vivia um homem…
um homem tão solitário que, com o passar dos anos, as lágrimas haviam aberto
fundos abismos no seu rosto.
Ele tentava sorrir e ser feliz. Ele caçava. Colocava armadilhas e dormia bem.
No entanto, sentia falta de companhia. Às vezes, lá nos bancos de areia, no seu
caiaque, quando uma foca se aproximava, ele se lembrava de antigas histórias sobre
como as focas haviam um dia sido seres humanos e como o único remanescente
daqueles tempos estava nos seus olhos, que eram capazes de retratar expressões,
aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas. Às vezes ele sentia nessas ocasiões
uma solidão tão profunda que as lágrimas escorriam pelas fendas já tão gastas no seu
rosto.
Uma noite ele caçou até depois de escurecer, mas sem conseguir nada. Quando
a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reluzir, ele chegou a uma
enorme rocha malhada no mar e seu olhar aguçado pareceu distinguir movimentos
extremamente graciosos sobre a velha rocha.
Ele remou lentamente e com os remos bem fundos para se aproximar, e lá no
alto da rocha imponente dançava um pequeno grupo de mulheres, nuas como no
primeiro dia em que se deitaram sobre o ventre da mãe. Ora, ele era um homem
solitário, sem nenhum amigo humano a não ser na lembrança — e ele ficou ali
olhando. As mulheres pareciam seres feitos de leite da lua, e sua pele cintilava com
gotículas prateadas como as do salmão na primavera. Seus pés e mãos eram longos e
graciosos.
Elas eram tão lindas que o homem ficou sentado, atordoado, no barco, e a água
nele batia, levando-o cada vez mais para junto da rocha. Ele ouvia o riso magnífico
das mulheres… pelo menos elas pareciam rir, ou seria a água que ria às margens da

rocha? O homem estava confuso, por se sentir tão deslumbrado. Entretanto,
dispersou-se a solidão que lhe pesava no peito como couro molhado e, quase sem
pensar, como se fosse seu destino, ele saltou para a rocha e roubou uma das peles de
foca ali jogadas. Ele se escondeu por trás de uma saliência rochosa e ocultou a pele de
foca dentro do seu qutnquq, parka.
Logo, uma das mulheres gritou numa voz que era a mais linda que ele já
ouvira… como as baleias chamando na madrugada… ou não, talvez fosse mais
parecida com os lobinhos recém-nascidos caindo aos tombos na primavera… ou
então, não, era algo melhor do que isso, mas não fazia diferença porque… o que as
mulheres estavam fazendo agora?
Ora, elas estavam vestindo suas peles de foca, e uma a uma as mulheres-focas
deslizavam para o mar, gritando e ganindo de felicidade. Com exceção de uma. A
mais alta delas procurava por toda a parte a sua pele de foca, mas não a encontrava
em lugar nenhum. O homem sentiu-se estimulado — pelo quê, ele não sabia. Ele saiu
de trás da rocha, dirigindo um apelo a ela.
— Mulher… case-se… comigo. Sou um… homem… sozinho.
— Ah — respondeu ela. — Eu não posso me casar, porque sou de outra
natureza, pertenço aos que vivem temeqvanek, lá embaixo.
— Case-se… comigo — insistiu o homem. — Em sete verões, prometo lhe
devolver sua pele de foca, e você poderá ficar ou ir embora, como preferir.
A jovem mulher-foca ficou olhando muito tempo o rosto do homem com olhos
que, se não fossem suas origens verdadeiras, pareciam humanos.
— Irei com você — disse ela, relutante. — Dentro de sete verões, tomaremos a
decisão.
E assim, com o tempo, tiveram um filho a quem deram o nome de Ooruk. A
criança era ágil e gorda. No inverno, a mãe contava a Ooruk histórias de seres que
viviam no fundo do mar enquanto o pai esculpia um urso em pedra branca com uma
longa faca. Quando a mãe levava o pequeno Ooruk para a cama, ela lhe mostrava pelo
buraco da ventilação as nuvens e todas as suas formas. Só que, em vez de falar das
formas do corvo, do urso e do lobo, ela contava histórias da vaca-marinha, da baleia,
da foca e do salmão… pois eram essas as criaturas que ela conhecia.
No entanto, à medida que o tempo foi passando, sua pele começou a ressecar.
A princípio, ela escamou e depois passou a rachar. A pele das suas pálpebras começou
a descascar. O cabelo da sua cabeça, a cair no chão. Ela se tornou naluaq, do branco
mais pálido. Suas formas arredondadas começaram a definhar. Ela procurava
esconder seu caminhar claudicante. A cada dia seus olhos, sem que ela quisesse, iam
ficando mais opacos. Ela passou a estender a mão para tatear porque sua vista estava
escurecida.
E as coisas iam dessa forma até uma noite em que o menino Ooruk despertou
ouvindo gritos e se sentou ereto nas cobertas de pele. Ele ouviu um rugido de urso,
que era seu pai repreendendo a mãe. Ouviu, também, um grito como o da prata que
ressoa com uma pedra, que era sua mãe. — Você escondeu minha pele de foca há sete longos anos, e agora está
chegando o oitavo inverno. Quero que me seja devolvido aquilo de que sou feita 
.

— gritou a mulher-foca.
— E você, mulher — vociferou o marido. — Você me deixará se eu lhe der a
pele.
— Não sei o que eu faria. Só sei que preciso daquilo a que pertenço.
— E você me deixaria sem mulher, e a seu filho, sem mãe. Você é má.
Com essas palavras, o marido afastou com violência a pele da porta e
desapareceu noite adentroO menino adorava a mãe. Ele tinha medo de perdê-la e, por isso, chorou até
dormir… só para ser acordado pelo vento. Um vento estranho… que parecia chamálo.
— Oooruk, Ooorukkkk.
Ele pulou da cama, tão apressado que vestiu o parka de cabeça para baixo e só
puxou os mukluks até a metade. Ao ouvir seu nome chamado insistentemente, ele
saiu correndo na noite estrelada.
— Ooooooorukkk.
O menino correu até o penhasco de onde se via a água e lá, bem longe no mar
encapelado, estava uma foca prateada, imensa e peluda… Sua cabeça era enorme.
Seus bigodes lhe caíam até o peito. Seus olhos eram de um amarelo forte.
— Ooooooorukkk.
O menino foi descendo o penhasco de qualquer jeito e bem junto à base
tropeçou numa pedra, não, numa trouxa, que rolou de uma fenda na rocha. O cabelo
do menino fustigava seu rosto como milhares de açoites de gelo.
— Ooooooorukkk.
O menino abriu a trouxa e a sacudiu: era a pele de foca da sua mãe. Ah, ele
sentia seu perfume na pele inteira. E, enquanto mergulhava o rosto na pele de foca e
respirava seu cheiro, a alma da mãe penetrava nele como um súbito vento de , verão
— Ah — exclamou ele com alegria e dor, e levou novamente a pele ao rosto.Mais uma vez, a alma da mãe passou pela dele. — Ah!!! — gritou ele de novo, porque
estava sendo impregnado pelo amor infindo da mãe.
E a velha foca prateada ao longe mergulhou lentamente para debaixo d’água.
O menino escalou o penhasco, voltou correndo para casa com a pele de foca
voando atrás dele e se jogou para dentro de casa. Sua mãe contemplou o menino e a
pele e fechou os olhos, cheia de gratidão pelo fato de os dois estarem em segurança.
Ela começou a vestir sua pele de foca.
— Ah, mãe, não! — gritou o menino. Ela apanhou o menino, ajeitou-o debaixo
do braço e saiu correndo aos trambolhões na direção do mar revolto.
— Ai, mamãe, não me abandone! — implorava Ooruk. E logo dava para se ver
que ela queria ficar com o filho, queria mesmo, mas alguma coisa a chamava, algo
que era mais velho do que ele, mais velho do que ela, mais antigo que o próprio
tempo.
— Ah, mamãe, não, não, não — choramingou a criança. Ela se voltou para ele
com uma expressão de profundo amor nos olhos. Segurou o rosto do menino nas
mãos e soprou para dentro dos pulmões do menino seu doce alento, uma vez, duas,
três vezes. Depois, com o menino debaixo do braço como uma carga preciosa, ela
mergulhou bem fundo no mar e cada vez mais fundo. A mulher-foca e seu filho não
tinham dificuldade para respirar debaixo d’água.Eles nadaram muito para o fundo até que entraram no abrigo subaquático das
focas, onde todos os tipos de criaturas estavam jantando e cantando, dançando e
conversando, e a enorme foca prateada que havia chamado Ooruk de dentro do mar
da noite abraçou o menino e o chamou de neto.
— Como você está se saindo lá em cima, minha filha? — perguntou a grande
foca prateada.
A mulher-foca afastou o olhar e respondeu.
— Magoei um ser humano… um homem que deu tudo para que eu ficasse com
ele. Mas não posso voltar para ele, porque, se o fizer, estarei me transformando em
prisioneira.
— E o menino? — perguntou a velha foca. — Meu neto? — Ele estava tão
orgulhoso que sua voz tremia.

— Ele tem de voltar, meu pai. Ele não pode ficar aqui. Ainda não chegou o seu
tempo de ficar conosco. — Ela chorou. E juntos eles choraram.

E assim passaram-se alguns dias e noites, exatamente sete, período durante o
qual voltou o brilho aos cabelos e aos olhos da mulher-foca. Ela adquiriu uma bela
cor escura, sua visão se recuperou, seu corpo voltou às formas arredondadas, e ela
nadava com agilidade. Chegou, porém, a hora de devolver o menino à terra. Nessa
noite, o avô-foca e a bela mãe do menino nadaram com a criança entre eles. Vieram
subindo, subindo de volta ao mundo da superfície. Ali eles depositaram Ooruk
delicadamente no litoral pedregoso ao luar.
— Estou sempre com você — afiançou-lhe sua mãe. — Basta que você toque
algum objeto que eu toquei, minhas varinhas de fogo, minha ulu, faca, minhas
esculturas de pedra de focas e lontras, e eu soprarei nos seus pulmões um fôlego
especial para que você cante suas canções.
A velha foca prateada e sua filha beijaram o menino muitas vezes. Afinal, elas
se afastaram, saíram nadando mar adentro e, com um último olhar para o menino,
desapareceram debaixo d’água. E Ooruk, como ainda não era a sua hora, ficou.
Com o passar do tempo, ele cresceu e se tornou um famoso tocador de tambor,
cantor e inventor de histórias. Dizia-se que tudo isso decorria do fato de ele, quando
menino, ter sobrevivido a ser carregado para o mar pelos enormes espíritos das focas.
Agora, nas névoas cinzentas das manhãs, ele às vezes ainda pode ser visto, com seu
caiaque atracado, ajoelhado numa certa rocha no mar, parecendo falar com uma
certa foca fêmea que freqüentemente se aproxima da orla. Embora muitos tenham
tentado caçá-la, sempre fracassaram. Ela é conhecida como Tanqigcaq, a brilhante, a
sagrada, e dizem que, apesar de ser foca, seus olhos são capazes de retratar
expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas.

Pegando uma carona no livro, separamos algumas frase do 9º capitulo.

para que você, possa participar desta viagem de reflexão.

A cada semana, temos a alegria de prosseguir em nossa jornada.

Nós permitindo parar e refletir com você.

cada capitulo do livro apresenta infinitas possibilidades, para o crescimento individual e coletivo.

Permita-se vivenciar este momento de autodescoberta e despertar da consciência.

Para saber mais, faça parte dos nossos seguidores. 

Encontre o resumo das capítulos anteriores,

“Projeto”

“Cadastro”

“introdução” 

 ” La-Loba”

O Barba-Azul” 

“Vasalisa”   

“Manawee”

“Mulher Esqueleto”

Patinho Feio”

“O Corpo Jubiloso”

“Sapatinho Vermelho

“Pele de Foca”

” As águas claras”

” As Deusas Sujas”

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