Mulheres que Correm Com Os Lobos
Reflexão de Leitura
O projeto de reflexão de leitura, chega ao Capitulo 14 do livro mulheres que correm com os lobos, este é um evento, semanal, gratuito, 100% online e com vagas limitadas.
Neste programa, conversamos sobre cada capítulo do livro, e você pode participar conosco, contando sua história, falando sobre seus sentimentos diante de cada frase ou história.
Para participar e aconselhável, fazer a leitura do livro, mas não obrigatório.
Cada capitulo tem um tema, desta forma, você pode participar de todos os encontros ou só de alguns.
Então confira as frases que separamos para refletir a partir da historia A Donzela Sem Mãos
As reflexões, mas relevantes dos eventos anteriores, ficaram disponíveis em nosso canal no YouTube.
Capitulo-14 A Donzela Sem Mãos
La |Selva Subterrânea:
A Iniciação Na Floresta Subterrânea
Pegando uma carona no livro, separamos algumas frase do 11º capitulo.
para que você, possa participar desta viagem de reflexão.
O primeiro estágio — O pacto sem o conhecimento
Embora detestemos admitir o fato, na esmagadora maioria das vezes o pacto mais infeliz das nossas vidas é o que fazemos quando nos privamos da nossa vida de conhecimento profundo em troca de uma vida que é muito mais frágil; quando renunciamos aos nossos dentes, nossas garras, nossos sentidos, nosso faro; quando entregamos nossa natureza selvagem em troca da promessa de algo que parece rico mas que se revela vazio. Como o pai na história, entramos nesse pacto sem perceber a tristeza, a dor e o transtorno que ele trará para nós. Pág. 442


Podemos ter boa vivência dos costumes do mundo, e, mesmo assim, quase toda filha de Eva, se tiver uma chance, opta a princípio pelo pacto infeliz. O desenvolvimento desse terrível pacto envolve um paradoxo enorme e significativo. Apesar de a escolha infeliz poder ser considerada uma reação auto-destrutiva em termos psicológicos, é muito mais frequente que ela se torne um divisor de águas, um evento que proporciona ampla oportunidade para a restauração da força da natureza instintiva. Pág. 442
Portanto, a história começa com a traição grave, porém involuntária, do feminino jovem, da inocente. Pode se dizer que o pai, que simboliza a função da psique que deveria nos orientar no mundo objetivo, desconhece, na realidade, o modo pelo qual o mundo objetivo e o mundo interior funcionam em série. Quando a função do pai da psique deixa de ter conhecimento sobre questões da alma, somos traídas com facilidade. O pai não percebe um dos fatos mais básicos que intermedeiam entre o mundo da alma e o mundo da matéria — ou seja, que muitas coisas que se apresentam a nós não são como aparentam ser à primeira vista. Pág. 443

Nenhum ente senciente neste mundo tem a permissão de permanecer inocente para sempre. Para que possamos crescer, nossa própria natureza instintiva nos força a encarar o fato de que as coisas não são como parecem a princípio ser. Pág 443
Nesse mundo, sua perda de inocência é tratada como um rito de passagem.4 Ela é aplaudida por poder agora ver com mais clareza. São-lhe conferidos status e homenagens por ela ter sofri- do e continuado a aprender. Pág. 444
No entanto, na história, o moinho não está em funcionamento. O moinho da psique está inativo. Pág.444

Algumas mulheres desistem da sua arte em troca de um grotesco casamento por interesse, abandonam o sonho de uma vida para ser uma boa esposa, boa filha ou boa menina, ou renunciam à sua verdadeira vocação a fim de levar o que elas esperam que venha a ser uma vida, mais aceitável, mais plena e mais digna. Pág.445
O diabo simboliza a força sinistra da psique, o predador, que nessa história não é reconhecido pelo que é. Esse diabo é um bandido arquetípico que precisa da luz, que a deseja e a rouba. Em tese, se a luz lhe fosse dada — ou seja, uma vida com a possibilidade do amor e da criatividade — o diabo não seria mais o diabo. Pág. 445
O pacto infeliz feito por ela foi o de nunca dizer não, para ser amada com constância. O predador da sua própria psique lhe oferecia o ouro de ser amada, se ela desistisse dos seus instintos que diziam que já bastava. Pag 446
A árvore é o símbolo arquetípico da individuação. Ela é considerada imortal, pois suas sementes sobreviverão a ela, seu sistema radicular protege e revitaliza e ela abriga toda uma cadeia alimentar. Como a mulher, a árvore também tem suas estações e seus estágios de crescimento. Pág. 446

A macieira e a donzela são símbolos intercambiáveis do Self feminino, e o fruto é um símbolo de nutrição e maturação do nosso conhecimento desse Self. Se nosso conhecimento acerca dos hábitos da nossa própria alma não estiver maduro, não poderemos nos nutrir com ele, pois esse conhecimento ainda não está pronto. Pág. 447
A macieira florida é uma imagem da fecundidade, sim. Mais do que isso, porém, ela simboliza o impulso criador densamente sensual e o amadurecimento das idéias. Pág. 447
Quando falamos da mulher-árvore, queremos falar da energia feminina de florescimento que nos pertence e que chega a nós em ciclos, refluindo e voltando até nós com regularidade exatamente como a primavera psíquica se segue ao inverno psíquico. Pag. 447
lenha. E um trabalho pesado o de cortar lenha, não é? Ele envolve muito esforço físico. No entanto, esse corte de lenha representa vastos recursos psíquicos, a capacidade de fornecer energia para as próprias tarefas, de desenvolver as próprias idéias, de trazer o seu sonho, qualquer que ele seja, para o seu alcance. Pág. 448
Quando fugimos do corte de lenha, as mãos da psique é que são cortadas… pois sem o trabalho psíquico, as mãos psíquicas definham. No entanto, esse desejo de um pacto que evite o trabalho pesado é tão humano e tão comum que é
surpreendente encontrar uma pessoa viva que não o tenha aceitado. A opção é tão frequente que, se fôssemos dar um exemplo atrás do outro de mulheres (ou homens) que desejam parar de cortar lenha para ter uma vida mais fácil, perdendo assim suas mãos — ou seja, seu domínio sobre sua própria vida — bem, demoraríamos muito nisso. Pág 448

Nessa história, o pai representa o ponto de vista do mundo objetivo, o ideal coletivo que pressiona as mulheres a serem murchas em vez de exuberantemente selvagens. Mesmo assim, não há vergonha nem culpa no fato de você ter renunciado aos seus ramos floridos. Pág. 449
A mãe no conto de fadas informa a toda a psique o que ocorreu. Ela diz: “Acordem! Vejam o que fizeram!” E todo mundo acorda tão rápido que chega a doer. Pág. 449
Agora, a dor da mulher chega ao consciente. Quando a dor é consciente, ela pode fazer algo a respeito. Ela pode usá-la para seu aprendizado, para seu fortalecimento, para se tornar uma mulher que sabe. Pág 449

A Donzela sem Mãos - 2ª parte
2º estágio - A Mutilação
Ficamos horrorizadas por cumprir o pacto. Pensamos que nossos constructos paternos interiores deveriam estar sempre alerta,
solidárias com a psique em flor e protetoras para com ela. Descobrimos agora o que acontece quando elas não estão. Pág. 450
Na mitologia, o período de três anos é a época do aumento de pressão, como nos três anos de inverno que precedem Ragnarok, o crepúsculo dos deuses na mitologia escandinava. Em mitos como esses, três anos de alguma natureza decorrem, vem então a destruição e, em seguida, daquela devastação nasce um novo mundo de paz. Pág 450
Logo energia suficiente será despertada, uma quantidade suficiente de vento da alma começará a soprar, levando a nau psíquica a navegar para bem longe.
Quando chegamos à terceira potência de qualquer coisa, ou seja, ao momento transformador, os átomos saltam, e onde havia a lassidão agora existe o movimento. Pág. 451
A tarefa desses três anos consiste no máximo fortalecimento possível, no uso de todos os recursos psíquicos em proveito da própria pessoa, na máxima consciência possível. Isso implica sairmos do nosso sofrimento para ver o que ele significa, como funciona, que modelo ele segue; para examinar outras pessoas com o mesmo modelo, que conseguiram passar bem por tudo isso, e imitar o que fizer sentido para nós. Pág. 451


Esse período de tempo é às vezes caracterizado pelo tédio. As mulheres costumam dizer que seu estado de espírito é tal que elas simplesmente não
conseguem detectar o que é que elas desejam, quer se trate do trabalho, do amor, do tempo, quer se trate do trabalho criativo. Pág. 451
Se prestarmos atenção às vozes de sonhos, às imagens, às histórias e à nossa arte, àquelas que vieram antes e a cada uma de nós, algo nos será oferecido, até mesmo diversas coisas que são rituais, que fazem parte de ritos psicológicos individuais, que servem para firmar esse estágio do processo. Pág. 452
A donzela chora, no entanto, chora nas próprias mãos. A princípio, quando a psique chora inconscientemente, não conseguimos ouvi-la, a não” ser por uma sensação de desamparo que se abate sobre nós. A donzela continua a chorar. Suas lágrimas são a germinação daquilo que a preservará, daquilo que purifica o ferimento recebido. Pág 452/453
“Bem”, diz o diabo, “se eu descascar sua camada civilizada, eu talvez possa roubar sua vida para sempre.” O predador deseja degradá-la, enfraquecê-la com suas proibições. O diabo acha que, se a donzela não tomar banho e ficar imunda, ele poderá roubá-la de si mesma.Pág 454
Se, nas nossas sociedades modernas, as mãos do ego devem ser decepadas com o objetivo de reconquista da nossa função selvagem, dos nossos sentidos femininos, então é melhor que elas sejam
mesmo perdidas para que nos afastemos de todas as seduções de coisas sem sentido que estão ao nosso alcance, de tudo aquilo a que podemos nos agarrar para não crescer. Pág. 455

Quando apertamos a mão de alguém, podemos enviar uma mensagem, e com frequência o
fazemos através da pressão, da intensidade, da duração e da temperatura da pele. As pessoas que, consciente ou inconscientemente, têm más intenções apresentam toques que dão a impressão de estar fazendo perfurações no corpo da alma psíquica do outro. No outro pólo psicológico, a colocação das mãos sobre uma pessoa pode aliviar, confortar, remover a dor e curar. Esse é o conhecimento da mulher através dos séculos, transmitido de mãe para filha. Pág. 458
Quando dizemos que as mãos da mulher foram decepadas, queremos dizer que ela está forçosamente afastada da possibilidade de se consolar, de promover uma cura imediata; está completamente incapacitada para fazer qualquer coisa que não seja seguir o caminho antiqüíssimo. Portanto, é correio que continuemos a chorar
durante esse período. É a nossa proteção simples e poderosa contra um demônio tão lesivo que nenhuma de nós consegue compreender totalmente sua motivação ou razão de ser. Pág 458

Chorar faz bem, e é certo. Chorar não cura o dilema, mas permite que o processo continue em vez de entrar em colapso. E agora, a vida da donzela como era até então, sua compreensão da vida até esse ponto, terminou, e ela desce para outro nível do mundo oculto. E nós continuamos a acompanhá-la. Pág. 459
É verdade que o corpo psíquico perdeu suas mãos, mas o resto da psique irá compensar essa perda. Ainda dispomos de pés que conhecem o caminho, a mente- alma com a qual vemos longe, seios e ventre para pressentir, exatamente como a exótica e enigmática deusa do ventre, Baubo, que representa a profunda natureza instintiva das mulheres… e que também não tem mãos. Com esse corpo incorpóreo e estranho, vamos adiante. Estamos a ponto de realizar a descida seguinte. pág 460

3ºestágio: A perambulação
esqueça.” Será que ela, agora que derrotou o demônio, irá descansar sobre os louros conquistados, por assim dizer? Irá ela se recolher, ferida e sem mãos, para os recessos da psique, onde possa receber atenções pelo resto da vida, deixando-se levar e fazendo o que lhe ordenam? Pág. 460
A antiga parte dominante da psique oferece-lhe a possibilidade de mantê-la escondida e em segurança para sempre, mas sua natureza instintual recusa o oferecimento, pois sente que precisa lutar para viver em plena consciência, custe o que custar. Pág. 461
Os ferimentos da donzela são envoltos em gaze branca. O branco é a cor da terra dos mortos e também, na alquimia, a cor do albedo, a ressurreição da alma do mundo subterrâneo. Essa cor é o arauto do ciclo de descida e retorno. Aqui, no início, a donzela transforma-se em andarilha, e só isso já representa uma ressurreição para uma nova vida e uma morte na vida antiga. Perambular é uma excelente opção. Pág 461
O arquétipo do andarilho propicia ou causa o surgimento de um outro: o do lobo solitário ou do proscrito. Ela agora está exilada das famílias aparentemente felizes das aldeias, fora dos ambientes aquecidos e ao relento, no frio. É essa agora a sua vida. Essa passa a ser a imagem viva para as mulheres que iniciaram a viagem.
Começamos de certo modo a não mais sentir que fazemos parte da vida que rodopia à nossa volta. Os megafones parecem estar muito longe, os camelos, os ambulantes, todo o magnífico circo da vida exterior como que cambaleia e desmorona à medida que descemos mais fundo no mundo subterrâneo. Pág 462


Agora, a donzela não está apenas desfigurada, mas faminta. Ela se ajoelha diante de um pomar como se este fosse um altar — o que ele é —, o altar dos deuses selvagens do outro mundo. À medida que descemos até nossa natureza básica, as antigas formas automáticas de alimentação são eliminadas. Coisas do mundo que costumavam ser alimento para nós perdem seu sabor. Nossas metas não mais nos atraem. Nossas realizações não têm mais interesse. Para onde quer que olhemos no mundo objetivo não há alimento para nós. Portanto, é um dos milagres mais autênticos da psique que, quando estamos tão desamparadas, a ajuda chega e bem na
hora. Pág463
Portanto a princípio, a mulher escapa da mãe ainda adormecida e do pai ganancioso e cheio de si, para em seguida deixar-se conduzir pela alma selvagem. Pág 463
A idéia psíquica aqui representada é a de que o mundo subterrâneo, à
semelhança do inconsciente dos seres humanos, é um torvelinho com muitas
características incomuns e irresistíveis: imagens, arquétipos, seduções, ameaças,
torturas e provas. É importante para o processo de individuação da mulher que ela tenha bom senso espiritual, ou que seja auxiliada por um guia que o tenha, para que ela não caia na fantasmagoria do inconsciente, para que ela não se perca no meio desse material torturante e sedutor. Como vemos na história, é mais importante permanecer com a nossa fome e prosseguir a partir daí Pág 464

Ali podem ocorrer dificuldades, mas seu significado e o aprendizado por elas proporcionado são diferentes daqueles do mundo objetivo. No mundo terreno, tudo é interpretado tendo-se em mente simples lucros e perdas. pág. 464
Na história, a ação está agora centrada na árvore frutífera, que em tempos remotos era chamada de Árvore da Vida, Árvore do Conhecimento, Árvore da Vida e da Morte ou Árvore do Saber. Pág 464
Da mesma forma que a mãe oferece o seio ao bebê, a pereira do pomar curva- se para dar seu fruto à donzela. Essa seiva da mãe é a da regeneração. Comer a pêra nutre a donzela, mas um ato mais comovente consiste em que o inconsciente, o seu fruto, se curva para alimentá-la. Nesse sentido, o inconsciente dá um beijo nos lábios da donzela. Ele lhe dá uma prova do Self, o hálito e a substância do seu próprio deus selvagem, uma comunhão selvagem. pág 465
Na terra dos mortos, acreditava-se que a alma pudesse investir-se num fruto, ou em qualquer outro alimento, para que sua futura mãe a comesse, e a alma oculta no fruto começaria sua regeneração na carne dela. pág 466

4º estágio: Encontrando o amor no outro mundo
O rei é uma criatura que transmite sabedoria na psique do outro mundo. Ele não é simplesmente qualquer rei velho, mas um dos principais guardiões do inconsciente da mulher. Ele cuida da botânica da alma que cresce — o pomar dele (e da sua mãe) está repleto de árvores da vida e da morte. Ele pertence à família dos deuses selvagens. Como a donzela, ele é capaz de aguentar muito. E como a donzela, ele ainda tem mais uma descida à sua frente. Mas isso virá depois. Pág. 467
O jardineiro, o rei e o mago são três personificações maduras do arquétipo do masculino. Eles correspondem à trindade sagrada do feminino representada pela donzela, pela mãe e pela velha. Nessa história, a antiga divindade tríplice ou as três-
deusas-em-uma são assim representadas: a donzela é retratada na mulher sem mãos; a mãe e a velha são as duas retratadas na mãe do rei, que entra na história mais tarde. A peculiaridade da história que a faz “moderna” está no fato de a imagem do demônio representar uma figura que nos antigos ritos de iniciação feminina era geralmente encarnada pela velha, na sua natureza dual de doadora e tomadora da vida. Nessa história, o diabo é retratado apenas como tomador da vida. Pág. 467
Em termos psíquicos, isso estaria em harmonia com certos conceitos da psicologia junguiana, da teologia e das antigas religiões noturnas segundo os quais o Self, ou na nossa terminologia a Mulher Selvagem, semeia a psique com perigos e desafios para que o ser humano em desespero recue até sua natureza original à procura de respostas e de força, reconciliando-se, portanto, com o grande Self selvagem e, daí em diante com a maior freqüência possível, agindo como um só ser. Pág. 467

Na realidade, porém, essa substituição da velha pelo diabo é de enorme aplicação ao nosso caso atual, pois, para descobrir os antigos hábitos do inconsciente, muitas vezes nos vemos em luta contra o demônio sob a forma de imposições culturais, familiares ou intrapsíquicas que desvalorizam a vida da alma do feminino selvagem. Pág. 468 .
A donzela – Como vimos, a donzela representa a psique sincera que esteve adormecida. No entanto, uma heroína-guerreira encontra-se por baixo da sua aparência frágil. Ela tem a resistência do lobo solitário. Pág. 468
O espírito de Branco – Em todas as lendas e contos de fadas, o espírito de branco é o guia, aquele que tem um conhecimento inato e delicado, que mais parece um desbravador para a jornada da mulher.
Isso significa que o espírito de branco é um auxiliar da mãe/velha que, na psicologia dos arquétipos é também uma deusa da vida-morte-vida Pág 468

O Jardineiro O jardineiro é quem cultiva a alma, um revitalizante guardião da semente, do solo, da raiz.
A psique da mulher precisa constantemente semear, tutorar e colher novas energias a fim de substituir a que estiver velha e exausta.
Ele não perde de vista a necessidade de mudança e de reabastecimento. Em termos intrapsíquicos, existe vida constante, morte constante, substituição constante de idéias, imagens, energias. Pág. 469
O Rei –representa um tesouro de conhecimentos no outro mundo. Ele dispõe da capacidade de levar seu conhecimento interior até o mundo lá fora para pô-lo em prática, sem afetação, sem resmungos, sem desculpas. O rei é filho da rainha- mãe/velha. À sua semelhança, e provavelmente seguindo seu exemplo, ele se envolve nos mecanismos do processo vital da psique: a fragilidade, a morte e a volta à consciência. Mais tarde na história, ao vaguear à procura da sua rainha perdida, ele passará por uma espécie de morte que o transformará de rei civilizado em rei selvagem. Ele encontrará sua rainha, podendo, assim, renascer. Em termos psíquicos, isso quer dizer que as antigas atitudes centrais da psique morrerão à medida que ela aprender outras. As antigas atitudes serão substituídas por pontos de vista novos ou renovados acerca de quase tudo na vida da mulher. Nesse sentido, o rei representa a renovação das atitudes e leis que regem a psique da mulher.

O Mago – ou mágico, que o rei traz consigo para interpretar o que vê,representa a magia direta do poder da mulher.
O mago sempre tem um potencial de transferência.
Na vida consciente, o mago ajuda a capacidade da mulher de se tornar aquilo que deseja parecer a qualquer momento Pág.470
A Rainha/Mãe/A Velha nessa história é a mãe do rei. Essa figura representa muitas coisas, entre elas a fecundidade, a enorme autoridade para detectar os ardis do predador e a capacidade de abrandar maldições.
É por isso que a velha mãe é muitas vezes chamada pelos seus nomes mais antigos — Mãe Terra, Mãe Poeira, Mam e Ma — pois ela é o estrume que faz com que as idéias aconteçam. Pág. 470
O Diabo Nessa história, a natureza dual da alma da mulher, que tanto a aflige quanto a cura, foi substituída por uma figura única, a do diabo. Como observamos anteriormente, essa figura do diabo representa o predador natural da psique da mulher, um aspecto contrário à natureza que se opõe ao desenvolvimento da psique e tenta eliminar todo o ânimo. Ela é uma força que se isolou do seu aspecto revitalizante. É uma força que precisa ser dominada e contida. Pág. 470
Portanto, aqui nesse pomar do outro mundo, aguarda-nos a impressionante reunião dessas poderosas partes da psique, tanto as masculinas quanto as femininas.
É através da conjunção e da pressão de elementos díspares habitando o mesmo espaço psíquico que são criados o conhecimento, o insight e a energia profunda.
A presença do tipo de conjunctio que temos nessa história indica a ativação de
um verdejante ciclo de vida-morte-vida.
E o que mais dizer sobre essas pêras? Elas estão ali para quem tiver fome na longa jornada no outro mundo. Diversas frutas são tradicionalmente usadas para simbolizar o útero feminino, na maioria das vezes, as pêras, as maçãs, os figos e os pêssegos, muito embora, em geral, qualquer objeto que tenha forma exterior e interior e que traga no centro uma semente que pode se transformar num ser vivo — como os ovos, Por exemplo — possa transmitir a conotação da qualidade feminina da “vida dentro da vida”. Aqui, as pêras, em termos arquetípicos, representam o irromper de uma nova vida, uma semente de uma nova identidade. As pêras no pomar são contadas, pois nesse processo transformador tudo recebe a devida atenção. Não se trata de um projeto fortuito. Tudo está registrado e controlado. A velha Mãe Selvagem sabe a quantidade de que dispõe dessas substâncias transformadoras. Pág . 471

O rei vem contar as pêras, não por um sentimento de posse, mas para descobrir se alguém novo chegou ao outro mundo para começar sua iniciação profunda. O mundo da alma sempre aguarda o neófito e o andarilho.
A pêra que se curva para alimentar a donzela é como um sino repicando em todo o pomar subterrâneo, conclamando as fontes e as forças — o rei, o mago, o jardineiro e, afinal, a velha mãe — que se apressam a saudar, a apoiar, a auxiliar a nova aprendiz.
O fosso é um local de descanso para os mortos, um encerramento no final da vida, mas a mulher viva não pode ficar muito tempo perto dele para não se tornar letárgica em seus ciclos de produção da alma.
Como o símbolo do rio circular, o do fosso, a história nos avisa que essa água não é qualquer água, mas de um tipo determinado. Ela é uma fronteira, semelhante ao círculo que a donzela traçou ao redor de si para manter o diabo afastado. Pág .472
Nesse caso, a donzela está passando pelo estado de inconsciência reservado
aos mortos. Ela não deve beber dessa água, nem vadear por ela, mas, sim, passar pelo leito seco.
A missão consiste em passar pela terra dos mortos como criatura viva, pois é assim que se gera consciência. Pág 473
Não devemos nos deitar e adormecer felizes com o que já realizamos do nosso trabalho. Nem devemos mergulhar no rio numa louca tentativa
de acelerar o processo. Existe a morte com m minúsculo e a Morte com M maiúsculo. Aquela que a psique procura nesse processo dos ciclos da vida-morte-vida é la muerte por un instante, não La Muerte Eterna. Pág. 473
A enigmática resposta da donzela comunica que ela pertence ao mundo dos vivos mas que está acompanhando o ritmo da vida-morte-vida, e que, por esse motivo, ela é um ser humano em queda assim como uma sombra do seu self anterior.
Ela pode viver dias no mundo da superfície, mas a transformação ocorre no mundo subterrâneo, e ela consegue estar nos dois, como La Que Sabé. Tudo isso ocorre para que ela aprenda o caminho, para que ela limpe seu caminho, até o verdadeiro self selvagem. Pág. 473

A mulher num processo desses precisa ser dos dois mundos. É esse tipo de movimento sem rumo que ajuda a eliminar o último resquício de resistência, a última possibilidade de hubris, a arrasar a última objeção que pudéssemos imaginar, porque andar desse jeito é cansativo. No entanto, esse tipo
específico de fadiga faz com que finalmente abandonemos as ambições e os receios do ego para simplesmente acompanhar o que vier. Em consequência dessa atitude, nossa compreensão do nosso tempo nas florestas subterrâneas será profunda e completa. Pág.474
De que modo encontramos essa pêra? Quando mergulhamos nos mistérios do feminino, dos ciclos da terra, dos insetos, dos animais, das aves, das árvores, das flores, das estações, da correnteza dos rios e do seu nível, das pelagens espessas e ralas dos animais de acordo com as estações, dos ciclos de transparência e opacidade nos nossos próprios processos de individuação, nos ciclos de desejo e indiferença na sexualidade, na religiosidade, na ascensão e na queda. Pág 475
Comer a pêra significa saciar nossa profunda fome criativa de escrever, pintar, esculpir, tecer, dizer o que pensamos, defender posições, apresentar esperanças, idéias e criações inauditas.
Essa é a verdadeira natureza da árvore psíquica: ela cresce, ela dá, ela se esgota, ela deixa sementes para a renovação. Ela nos ama. É assim o mistério da vida- morte-vida.
O modelo é o seguinte: em toda morte há uma inutilidade que passa a ser útil quando descobrimos como nos recuperar. O conhecimento que chegará a nós revela-se à medida que prosseguimos. Em tudo que é vivo, a perda gera um ganho real. Pág. 475
Muito embora perambulemos por aí sem mãos, semicegas, desamparadas e sem nos banharmos, uma imensa força do Self pode nos amar e nos guardar junto ao coração. Pág 476
Em termos junguianos, esse estado é chamado de “tensão dos opostos”, na qual alguma coisa de cada pólo da psique se constela de uma vez, criando um novo campo. Na psicologia freudiana, isso se chama “bifurcação”, na qual a atitude ou disposição essencial da psique é dividida em duas polaridades: preto e branco, bem e mal. Entre os contadores de histórias, esse estado é chamado de “nascer de novo”. É a época em que ocorre um segundo nascimento decorrente de uma fonte mágica, e daí em diante a alma passa a fazer jus a duas linhagens, uma do mundo físico, outra do mundo invisível. Pág.476
Nos casamentos dos contos de fadas, como nos do mundo objetivo, o grande
amor e união entre seres diferentes pode durar para sempre, ou apenas até que o aprendizado esteja concluído. Pág.476
Tomar nas mãos o mundo subterrâneo significa aprender a invocar os poderes daquele mundo, direcioná-los, confortá-los e recorrer a eles, mas também a evitar seus aspectos desagradáveis, como a sonolência, entre outros. Se o símbolo da mão no mundo objetivo contém radar sensorial dos outros, a mão simbólica do outro mundo pode ver no escuro e através do tempo. Pág 477
Receber mãos de prata significa ser investido com os talentos das mãos espirituais — a capacidade de curar com o toque das mãos, a capacidade de ver no
escuro, a de adquirir conhecimentos poderosos através de sensações físicas. Essas mãos dispõem de toda uma medicina psíquica com a qual podem nutrir, aliviar e apoiar. Nesse estágio, a donzela recebe o dom do toque da curandeira ferida. Essas
mãos psíquicas irão permitir que ela compreenda melhor os mistérios do outro mundo, mas elas também serão guardadas como presentes quando seu trabalho estiver concluído e ela subir novamente. Pág 478
Seria possível dizer que as mãos de prata representam a assunção da donzela a mais um papel. Ela é, portanto, coroada, não com uma coroa na cabeça, mas com mãos de prata nos tocos dos braços. Essa é sua coroação como rainha do outro mundo.
Portanto, aqui no final da quarta tarefa da donzela sem mãos, poderíamos dizer que está completo o trabalho de descida da donzela, já que ela é coroada rainha da vida e da morte. Ela é a mulher lunar que sabe o que acontece à noite; até o próprio sol precisa passar Pág 479

O 5º estágio — Encontrando o amor no outro mundo
Portanto, a donzela sem mãos está esperando um bebê, um novo e pequenino self selvagem. O corpo na gravidez faz o que quer fazer. A nova vida prende-se, divide-se, cresce. A mulher nesse estágio do processo psíquico pode entrar em outra enantiodromia, o estado psíquico em que tudo que um dia foi considerado valioso já não é mais tão valioso e, além do mais, pode ser substituído por desejos extremos e inusitados por iniciativas, experiências e visões estranhas e raras. Pág. 482
Para algumas mulheres, por exemplo, o casamento foi um dia a razão de ser de tudo. No entanto, numa enantiodromia, elas querem se soltar: o casamento é péssimo, o casamento é um saco, o casamento é uma Scheisse, uma merda, decepcionante. Troque a palavra casamento pelos termos amante, emprego, corpo, arte, vida e opções e você perceberá o exato estado de espírito dessa época. Pág 483
Na mitologia grega, existe no outro mundo um rio chamado Letes, e beber das suas águas faz com que a pessoa se esqueça de tudo que disse ou que fez. Em termos psicológicos, isso quer dizer estar adormecido para a própria vida real. O emissário que deveria promover e realizar a comunicação entre esses dois importantes elementos da nova psique não consegue resistir à força destrutiva/sedutora da psique. A função comunicativa da psique fica entorpecida, deita-se, adormece e se esquece. Pág 485

“A donzela sem mãos” revela como o predador tem a capacidade de distorcer
as percepções humanas e as compreensões vitais de que precisamos para desenvolver dignidade moral, amplitude de visão e uma ação solidária na nossa vida e no mundo Pág 486
Portanto, quando o diabo troca a mensagem no conto, esse fato pode ser em certo sentido considerado como um registro fiel de um acontecimento histórico, um acontecimento que está especialmente relacionado à mulher moderna na sua missão psíquica de descida e de conscientização. É digno de nota que muitos aspectos da cultura (na acepção do sistema de pensamento coletivo e dominante num grupo de pessoas que vivam em proximidade suficiente para se influenciarem mutuamente) ainda atuem como o diabo no que diz respeito ao trabalho interior, à vida pessoal e aos processos psíquicos das mulheres. Eliminando um pouco aqui e apagando mais um pouco acolá, cortando uma raiz aqui e vedando uma abertura mais adiante, o “diabo” da cultura e o predador intrapsíquico fazem com que gerações de mulheres sintam medo mas continuem perambulando sem a menor pista das causas, ou da própria perda da natureza selvagem, que poderiam revelar tudo para elas Pág 486


O 6º estágio — O reino da Mulher Selvagem
vida da mulher é dividida em fases, cada uma com sete anos. Cada período de sete anos representa um certo conjunto de experiências e aprendizagens. Essas fases podem ser compreendidas em termos mais concretos como estágios do desenvolvimento, mas elas podem ainda mais ser vistas como estágios espirituais de desenvolvimento que não correspondem necessariamente à idade cronológica da mulher, embora às vezes isso ocorra Pág 498/499

À medida que praticamos o profundo conhecimento instintivo acerca de todo tipo de aprendizado que obtemos durante toda uma vida, nossas mãos voltam a nós, as mãos da nossa feminilidade. É divertido às vezes observar a nós mesmas quando entramos pela primeira vez num estágio psíquico imitando o comportamento que gostaríamos de aprender. Mais tarde, à medida que prosseguimos, atingimos nossa própria fase espiritual, nosso próprio formato de direito. Pág 502
Com freqüência, temos de reformar nossas idéias acerca de “uma vez sem
poder (sem as mãos), sempre sem poder”. Depois de todas as nossas perdas e de todo o nosso sofrimento, descobrimos que, se quisermos nos esforçar, seremos recompensadas com a possibilidade de agarrar a criança que é mais valiosa para nós Pág 503

O 7º estágio — O noivo e a noiva selvagens
Um dos aspectos mais surpreendentes dessa longa iniciação consiste em que mulher que passa por esse processo continua a sua vida normal no mundo objetivo: ela ama o amado; dá à luz filhos; corre atrás das crianças; corre atrás da arte; corre atrás das palavras; carrega alimentos, tintas, meadas; luta por uma coisa ou por outra; enterra os mortos; cumpre todas as tarefas de rotina ao mesmo tempo que avança nessa jornada profunda e distante Pag 506
A donzela sem mãos” é uma história da vida real a respeito de nós, mulheres de verdade. Ela não trata de uma parte das nossas vidas, mas da nossa existência inteira. Na sua essência, ela ensina que para as mulheres o trabalho consiste em vaguear, entrando e saindo da floresta repetidas vezes. Nossas psiques e nossas almas são especificamente adequadas a isso, de tal modo que conseguimos percorrer o subterrâneo psíquico, parando aqui e ali, prestando atenção à velha Mãe Selvagem, sendo alimentadas pelos frutos do espírito e conseguindo nos reunir a tudo e todos a quem amamos Pág 508

Algumas questões que podem ajudar em sua reflexão.
- Existem em sua vida, situações negativas que se repetem, continuamente? Já parou para pensar que o medo desta realidade, constrói, justamente esta situação da qual você quer se afastar?
- Quais histórias de sua vida, precisam serem, resgatadas e curadas, para que você possa vivenciar novas realidades?
- As características comuns entre os lobos e as mulheres sitadas no livro: percepção aguçada, espirito brincalhão e capacidade para devoção. Você consegue perceber estas características nas mulheres a sua volta?
- Seus relacionamentos amorosos são satisfatórios? O que você entende como relacionamento abusivo?
- Como você se sente diante destas palavras "Mulher Selvagem", você se reconhece nestas palavras?
- Quais crenças sobre a mulher norteiam sua vida? Para você, o que é positivo e o que é negativo em ser mulher?
- O que falta em sua vida? Você, verdadeiramente se acha merecedora, de conquistar isso que falta?
- Você consegue se olhar no espelho e sentir amor por si mesma? O que você tem feito para se agradar?
- Qual é sua principal função de vida? Acredita ser a protagonista de sua historia?
- Você acredita, que o trabalho na organização do que realmente faz sentido em sua vida, pode auxiliar na conquista de seus objetivos?
A cada semana, temos a alegria de prosseguir em nossa jornada.
Nós permitindo parar e refletir com você.
cada capitulo do livro apresenta infinitas possibilidades, para o crescimento individual e coletivo.
Permita-se vivenciar este momento de autodescoberta e despertar da consciência.
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